terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Formação e qualidade em imagens

Há tempos queria escrever algo sobre isso. Não para falar sobre a chamada "formação acadêmica" que quem trabalha com imagens deveria ter (segundo uma visão mais ligada ao mercado do que à arte) e menos ainda sobre o que diferencia um profissional de um amador, mas sim para descrever o que considero fundamental como formação pessoal para ser um bom captador de imagens. Repare que eu não vou usar os termos "fotógrafo", "cinegrafista", "videorrepórter" ou coisas do gênero. Na verdade tudo se resume a captar imagens de uma forma ou de outra (e não estou sequer incluindo aqui o universo da pintura, do desenho, etc).
Esclareço isso porque, nos termos atuais, é cada vez mais comum que quem exerce uma atividade também acabe fazendo as outras. Se não chega a exercer, deve no mínimo ter algum conhecimento sobre o assunto.

Básico

Minha experiência me mostrou que nem sempre é preciso ter uma grande formação cultural para possuir a sensibilidade no olhar, fundamental para perceber imagens que mereçam ser capturadas. Por outro lado, uma base cultural sólida traz referenciais que podem enriquecer o trabalho. É através dessas referências que se estabelecem linguagens consistentes, que se fazem referências perceptíveis e, por suposto, se consegue quebrar as regras. Por mais que sempre possa surgir o exemplo da pessoa que, sem nunca ter estudado nada sobre arte ou imagens, se revela um grande fotógrafo ou cinegrafista, tais casos são exceções para confirmar a regra. Antes de "desconstruir" teorias é preciso dominá-las ou , pelo menos, compreendê-las. Assim, um fotógrafo deve conhecer as regras dos terços, ponto de ouro, dominar os comandos das cameras, conhecer as relações de profundidade de campo, tempo de exposição e velocidade, ISO, etc... Sem falar no básico que todos devem saber sobre planos de enquadramento (oriundos em grande parte do cinema), composição, cores, luz, etc. Mas acredito que é preciso ir adiante. Informar-se sobre o que outras pessoas estão produzindo é fundamental. Existem centenas de bons blogs e publicações dedicadas ao tema das imagens. Isso sem falar no conhecimento sobre história da arte, história da própria fotografia e do cinema, sobre como se forma uma imagem nos diversos equipamentos de captação.

Qualidade

O que faz a qualidade de uma imagem? É o fato de ter sido feita por um profissional? Certamente que não. Na verdade se trata de uma aspecto dos mais subjetivos. Podemos analisar uma imagem apenas do ponto de vista das regras formais e, assim, estabelecer se está bem enquadrada, com a luz apropriada, numa composição correta, enfim... mas repare que esta será sempre uma avaliação formal. Existe ainda o objeto da imagem, o que ela quer transmitir, a proposta de quem captou, que pode pender para o realismo ou, ao contrário, para o subjetivismo,o simbolismo, numa abordagem artística. A construção de uma imagem é também a construção de um discurso, como ensinam os estudiosos do assunto. Tudo começa com a escolha do que vai aparecer, de que forma vai ser mostrado, qual o ângulo... depois da captação ainda pode haver o tratamento que vai intensificar ou suavizar determinados aspectos, em busca de uma estética previamente definida - ou não. Há ainda um terceiro fator, igualmente subjetivo, que determina a qualidade de uma imagem: é a relevância que ela tem para quem a vê. Isto nos deixa diante de questões como, por exemplo, o registro de uma cena familiar adquirir, para os integrantes daquele grupo, importância maior do que uma cena premiada internacionalmente num concurso de imagen. É a esfera pessoal e emocional que entra em ação - e contra isso não há discurso acadêmico que possa fazer objeção. Assim, temos pelo menos duas análises possíveis: uma técnica e outra pessoal, emocional. Para mim o que faz a qualidade de uma imagem é a combinação destes fatores: deve ser tecnicamente correta, esteticamente representar um discurso e ao mesmo tempo buscar a emoção possível; pode ainda quebrar todas as regras, desde que conscientemente, e apresentar todas as cargas subjetivas, dramáticas, simbólicas desejadas pelo autor. Não me preocupa tanto uma pretensa "originalidade", mas não há dúvida sobre o valor de um olhar diferenciado, que fuja dos clichês. Em resumo, não deve ser fruto do acaso, mas de uma intenção. Mas esta é, como já disse, uma visão pessoal. E não estou falando (ainda) de trabalhos autorais, que buscam a expressão clara de uma ideia, crença ou objetivo estético. Isso fica para outro post.

As fotos que ilustram este texto são de minha autoria, foram feitas durante visita de barco à Ilha do Chico Inglês, em Porto Alegre, RS, Dezembro de 2011.
A turma de fotógrafos faz parte do "Projeto Prática Fotográfica com Exposição", coordenado pelo professor Germano Preichardt, cujo site é este aqui:
http://fotografiacomexposicao.blogspot.com/

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