domingo, 25 de dezembro de 2011

Bob Gruen - um fotógrafo Rock

A fotografia de shows e de artistas se transformou numa espécie de subgênero dentro do universo fotográfico. E aqui o "sub" não significa menos ou menor. Uso o termo apenas para definir um tipo de foto que possui especificidades e habilidades próprias, da mesma forma que existem aspectos únicos nas fotos de esporte, jornalismo, etc. Nem sempre é uma missão fácil. Ainda que hoje em dia os fotógrafos possam contar com os aparentemente infindáveis recursos digitais de captação e pós-produção, a foto de um músico, uma banda, vai muito além disso. É preciso capturar a alma do momento. Nestes dias de tantas possibilidades para o registro de imagens e também da desmistificação do papel do fotógrafo, esta deve ser uma das últimas fronteiras que ainda separam o amador do alquimista, aquele ser capaz de ver - e registrar - o que os outros não parecem enxergar.

Bob

Talvez nem todos saibam, mas algumas das fotos mais conhecidas de artistas do Rock´n´roll foram feitas pelo fotógrafo norteamericano Bob Gruen. Acompanhando alguns dos maiores nomes do gênero desde os anos 60, Bob registrou imagens que hoje fazem parte da mitologia do Rock.

Bob considera a foto de Tina Turner (na verdade cinco imagens sobrepostas ) como a sua melhor. Diz ainda que, mais do que fazer um trabalho tecnicamente correto, é preciso captar a emoção do artista, do show que está fotografando. Para isso não são necessários milhares de cliques, é melhor esperar atentamente a hora certa para obter e melhor imagem. Por outro lado Bob também ensina: "se tirar muitas fotos e apenas duas ficarem ótimas, mostre apenas estas, pois é como seu trabalho será avaliado", diz no documentário sobre ele dirigido por Don Letts.

É de Gruen a famosa última sessão de fotos de John Lennon, feita em Nova Iorque dois dias antes da morte do músico. Talvez seja com Lennon a associação mais profícua de Bob, uma vez que chegou a trabalhar como fotógrafo pessoal do ex-Beatle.

Bob Gruen fotografou também artistas como Rolling Stones, Eric Clapton, Led Zeppelin, Kiss, Elton John, Sex Pistols, Bob Dylan, The Who, entre centenas de outros.
O site do fotógrafo na internet é www.bobgruen.com.

No video a seguir, Bob Gruen foi entrevistado por Budd Mishkin para NY1.
Ele conta a história de algumas de suas fotografias.




Confira ainda este curta-metragem sobre Bob Gruen:

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Formação e qualidade em imagens

Há tempos queria escrever algo sobre isso. Não para falar sobre a chamada "formação acadêmica" que quem trabalha com imagens deveria ter (segundo uma visão mais ligada ao mercado do que à arte) e menos ainda sobre o que diferencia um profissional de um amador, mas sim para descrever o que considero fundamental como formação pessoal para ser um bom captador de imagens. Repare que eu não vou usar os termos "fotógrafo", "cinegrafista", "videorrepórter" ou coisas do gênero. Na verdade tudo se resume a captar imagens de uma forma ou de outra (e não estou sequer incluindo aqui o universo da pintura, do desenho, etc).
Esclareço isso porque, nos termos atuais, é cada vez mais comum que quem exerce uma atividade também acabe fazendo as outras. Se não chega a exercer, deve no mínimo ter algum conhecimento sobre o assunto.

Básico

Minha experiência me mostrou que nem sempre é preciso ter uma grande formação cultural para possuir a sensibilidade no olhar, fundamental para perceber imagens que mereçam ser capturadas. Por outro lado, uma base cultural sólida traz referenciais que podem enriquecer o trabalho. É através dessas referências que se estabelecem linguagens consistentes, que se fazem referências perceptíveis e, por suposto, se consegue quebrar as regras. Por mais que sempre possa surgir o exemplo da pessoa que, sem nunca ter estudado nada sobre arte ou imagens, se revela um grande fotógrafo ou cinegrafista, tais casos são exceções para confirmar a regra. Antes de "desconstruir" teorias é preciso dominá-las ou , pelo menos, compreendê-las. Assim, um fotógrafo deve conhecer as regras dos terços, ponto de ouro, dominar os comandos das cameras, conhecer as relações de profundidade de campo, tempo de exposição e velocidade, ISO, etc... Sem falar no básico que todos devem saber sobre planos de enquadramento (oriundos em grande parte do cinema), composição, cores, luz, etc. Mas acredito que é preciso ir adiante. Informar-se sobre o que outras pessoas estão produzindo é fundamental. Existem centenas de bons blogs e publicações dedicadas ao tema das imagens. Isso sem falar no conhecimento sobre história da arte, história da própria fotografia e do cinema, sobre como se forma uma imagem nos diversos equipamentos de captação.

Qualidade

O que faz a qualidade de uma imagem? É o fato de ter sido feita por um profissional? Certamente que não. Na verdade se trata de uma aspecto dos mais subjetivos. Podemos analisar uma imagem apenas do ponto de vista das regras formais e, assim, estabelecer se está bem enquadrada, com a luz apropriada, numa composição correta, enfim... mas repare que esta será sempre uma avaliação formal. Existe ainda o objeto da imagem, o que ela quer transmitir, a proposta de quem captou, que pode pender para o realismo ou, ao contrário, para o subjetivismo,o simbolismo, numa abordagem artística. A construção de uma imagem é também a construção de um discurso, como ensinam os estudiosos do assunto. Tudo começa com a escolha do que vai aparecer, de que forma vai ser mostrado, qual o ângulo... depois da captação ainda pode haver o tratamento que vai intensificar ou suavizar determinados aspectos, em busca de uma estética previamente definida - ou não. Há ainda um terceiro fator, igualmente subjetivo, que determina a qualidade de uma imagem: é a relevância que ela tem para quem a vê. Isto nos deixa diante de questões como, por exemplo, o registro de uma cena familiar adquirir, para os integrantes daquele grupo, importância maior do que uma cena premiada internacionalmente num concurso de imagen. É a esfera pessoal e emocional que entra em ação - e contra isso não há discurso acadêmico que possa fazer objeção. Assim, temos pelo menos duas análises possíveis: uma técnica e outra pessoal, emocional. Para mim o que faz a qualidade de uma imagem é a combinação destes fatores: deve ser tecnicamente correta, esteticamente representar um discurso e ao mesmo tempo buscar a emoção possível; pode ainda quebrar todas as regras, desde que conscientemente, e apresentar todas as cargas subjetivas, dramáticas, simbólicas desejadas pelo autor. Não me preocupa tanto uma pretensa "originalidade", mas não há dúvida sobre o valor de um olhar diferenciado, que fuja dos clichês. Em resumo, não deve ser fruto do acaso, mas de uma intenção. Mas esta é, como já disse, uma visão pessoal. E não estou falando (ainda) de trabalhos autorais, que buscam a expressão clara de uma ideia, crença ou objetivo estético. Isso fica para outro post.

As fotos que ilustram este texto são de minha autoria, foram feitas durante visita de barco à Ilha do Chico Inglês, em Porto Alegre, RS, Dezembro de 2011.
A turma de fotógrafos faz parte do "Projeto Prática Fotográfica com Exposição", coordenado pelo professor Germano Preichardt, cujo site é este aqui:
http://fotografiacomexposicao.blogspot.com/

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Niépce e a heliografia

A exemplo de Fox-Talbot, o francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) é um dos inventores e pesquisadores que integra o rol dos pais da fotografia. Daguerre é o terceiro nome desta tríade inicial. A curiosidade sobre Niépce é que, assim como Fox-Talbot, não sabia desenhar e foi movido por esta frustração que buscou um jeito de registrar as imagens de que gostava.

Niépce começou seus experimentos fotográficos em 1793, mas as imagens desapareciam rapidamente. Ele conseguiu imagens que demoraram a desaparecer em 1824 e o primeiro exemplo de uma imagem permanente ainda existente foi tirada em 1826. Niépce chamava o processo de heliografia e demorava oito horas para gravar uma imagem. Em 1793, junto com o seu irmão Claude, oficial da marinha francesa, Joseph Nicéphore Niépce tenta obter imagens gravadas quimicamente com a câmara escura, durante uma temporada em Cagliari.

Aos 40 anos, Niépce se retirou do exército francês para dedicar-se a inventos técnicos, graças à fortuna que sua família possuia. Nesta época, a litografia era muito popular na França, e como Niépce não tinha habilidade para o desenho, tentou obter através da câmera escura uma imagem permanente sobre o material litográfico de imprensa. Recobriu um papel com cloreto de prata e expôs durante várias horas na câmera escura, obtendo uma fraca imagem parcialmente fixadas com ácido nítrico. Como essas imagens eram em negativo e Niépce pelo contrário, queria imagens positivas que pudessem ser utilizadas como placa de impressão, determinou-se a realizar novas tentativas.

Foto mais antiga tirada por Niépce, por volta de 1826

Após alguns anos, Niépce recobriu uma placa de estanho com betume branco da Judéia que tinha a propriedade de se endurecer quando atingido pela luz. Nas partes não afetadas, o betume era retirado com uma solução de essência de alfazema. Em 1826, expondo uma dessas placas durante aproximadamente 8 horas na sua câmera escura fabricada pelo ótico parisiense Chevalier, conseguiu uma imagem do quintal de sua casa. Apesar desta imagem não conter meios tons e não servir para a litografia, todas as autoridades na matéria a consideram como "a primeira fotografia permanente do mundo". Esse processo foi batizado por Niépce como heliografia, gravura com a luz solar.

primeiro negativo não-fixado

Em 1827, Niépce foi a Kew, perto de Londres, visitar Claude, levando consigo várias heliografias. Lá conheceu Francis Bauer, pintor botânico que de pronto reconheceu a importância do invento. Aconselhado a informar ao Rei Jorge IV e à Royal Society sobre o trabalho, Niépce, cauteloso, não descreve o processo completo, levando a Royal Society a não reconhecer o invento. De volta para a França, deixa com Bauer suas heliografias do Cardeal d'Amboise e da primeira fotografia de 1826.

Em 1829 substitui as placas de metal revestidas de prata por estanho, e escurece as sombras com vapor de iodo. Este processo foi detalhado no contrato de sociedade com Daguerre, que com estas informações pode descobrir em 1831 a sensibilidade da prata iodizada à luz. Niépce morreu em 1833 deixando sua obra nas mãos de Daguerre.

Informações retiradas da Wikipedia

Neste site, você tem acesso ao museu dedicado à memória de Niépce:

http://www.niepce.com/home-fr.html