quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lápis da natureza - uma história da fotografia

Outono de 1833. O inglês Willian Henry Fox-Talbot estava em lua de mel em Villa Melzi, às margens do Lago de Como, nos Alpes italianos. Resolveu desenhar uma vista do lago utilizando uma câmera lúcida, dispositivo que projeta uma imagem ao vivo para permitir que ela seja traçada à mão. Fox-Talbot, como se vê, não sabia desenhar, mas acreditava que o aparelho de fácil uso lhe daria a habilidade que não possuía. A câmera lúcida havia sido inventada recentemente e consistia de um prisma apoiado numa haste, que permitia ao desenhista ver a imagem e o papel ao mesmo tempo. Como o próprio Talbot admitiria anos depois, o dispositivo não era capaz de dar ao aspirante a artista aquilo que não possuía: a habilidade para o desenho. Este era o caso dele, um desenhista frustrado – mas que não desistiu da idéia de imortalizar imagens em papel. Depois de tentativas que não deram certo, decidiu tentar a câmera obscura , instrumento comum nos ateliers de pintura da época, também utilizado em desenhos: era só apoiar uma folha de papel translúcido sobre o vidro despolido e copiar a imagem projetada nele pela objetiva. O problema é que uma simples diferença de pressão da mão sobre o vidro tirava a câmera da posição inicial... Mesmo que o artista conseguisse retomar a posição inicial, ainda havia a questão da habilidade com o desenho. Fox-Talbot teve a seguinte idéia: e se estas imagens naturais se imprimissem a si mesmas de forma durável, permanecendo fixas ao papel? Foi assim que deu um passo certeiro no rumo da invenção da fotografia. As pesquisas de Fox-Talbot iniciaram ainda em 1833 e envolveram diversas tentativas com substâncias e métodos diferentes para fixar a imagem no papel. Tanto tentou que, num determinado momento, em 1836, chegou a abandonar as pesquisas diante dos insucessos, não sem antes conseguir registrar uma imagem (em 1835 fez a foto de uma janela em Lacock Abbey). Incidentalmente, descobriu o processo bifásico da fotografia: o seu original “fotografado” no papel era “fixado”, depois encerado para dar transparência ao papel e colocado numa folha nova de papel fotográfico; exposto à luz, produzia no papel de baixo uma imagem igual à da fotografia. Fox-Talbot imaginava ter tempo para retomar os estudos, tanto que não se preocupou em divulgar o seu processo ou registrar patente.

Daguerre

Em 1839, o francês Louis Daguerre apresentou ao mundo exemplares de seus daguerreótipos , instrumentos que através de um complicado processo envolvendo chapas de prata, banho de iodo e vapor de mercúrio, conseguia fixar as imagens da câmera escura. Fox-Talbot foi surpreendido e tentou reagir, levando à Royal Institution de Londres as amostras do seu trabalho. Não patenteou o seu “processo de desenho fotogênico”, mas, em 21 de fevereiro de 1839 (seis meses antes de Daguerre) divulgou publicamente os detalhes. Mesmo assim, foi o francês que passou à história como inventor da fotografia. Restou a Fox-Talbot expor seu trabalho na obra Pencil of the Nature, lançado com 300 exemplares e que passou a ser o primeiro livro ilustrado com fotografia da história, feito comparável ao de Gutemberg. Foi assim que o inglês entrou para a história como um dos criadores do processo fotográfico físico-químico moderno.

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